O trabalho aqui apresentado traz, em prosa narrativa, o texto escrito para teatro por Martins Pena em 1845. Sátira dos costumes da sociedade da época, o texto desmascara o comportamento de um caçador de dotes, Ambrósio, que se casa com Florência, uma viúva rica. Os filhos da mulher, Juca e Emília, e seu sobrinho Carlos representam possibilidades de partilha de herança, o que desagrada o falso marido apaixonado. Por isso, Ambrósio tenta encaminhar todos ao convento, convencendo a mulher dos perigos do mundo - farsas, traições e safadezas. Mas Ambrósio acaba em maus lençóis quando Rosa, sua esposa deixada no Ceará, chega ao Rio em busca de seu homem. E aí, forma-se a confusão! A agudeza da crítica, o humor da peça teatral permanecem na adaptação de José Arrabal. Com um personagem -narrador, o leitor vai acompanhando o desenrolar dos acontecimentos - "Venha comigo, leitor!" assim começa o texto. E após uma pequena introdução sobre a peça em si, entra-se "na casa onde começa a história". É interessante notar que o adaptador utiliza recursos de metalinguagem para construir seu texto. Por exemplo: "Enquanto cuida de ler, repare, caro leitor, o artifício de agora usado para mudar as personagens em cena" (pg 34) ou " No teatro, o solilóquio liga situações" (pg. 68). Dessa forma, o leitor pode apreciar uma boa história e acompanhar um interessante trabalho de adaptação da linguagem teatral para a narrativa. A obra inicia-se por um texto do próprio Arrabal discorrendo sobre o humor e a brasilidade do autor, sobre o nascimento do teatro brasileiro e a comédia de costumes, inaugurada em 1838 por Martins Pena, "O juiz de paz na roça". O adaptador também escreve sobre a obra "O Noviço" e seu trabalho de adaptação. Ao final, há uma biografia do autor, adaptador e ilustrador. Este, o conhecido Rogério Borges, criou belas imagens a partir de gravuras em metal de um livro do século XIX, escaneadas. Seu trabalho fez uma feliz combinação com o texto e o contexto da época. Arrabal convida o leitor a ler e conferir o criticismo e o humor da obra de Martins Pena. Além desse convite, o leitor poderá, também, ler e acompanhar o trabalho de adaptação realizado nessa obra. (S.M.F.B.)