A adaptação da obra de Ésquilo para prosa de ficção é digna de muitos elogios. A situação a ser retratada não envolve atos de luta, combates entre facções ou momentos de ação dramática, o que por si só seria sustentação de uma boa narrativa. Ao contrário, o texto atém-se ao aprisionamento de Prometeu ao topo de uma montanha, por correntes de aço feitas por Hefesto, o deus-ferreiro. O destino de Prometeu era atroz: permanecer preso à rocha, exposto ao sol impiedoso e aos ventos cortantes da noite, sem momentos de alívio. Esse era o castigo que lhe havia imposto Zeus, pelo amor que ele dedicara à humanidade. Foi com o Titã que os homens aprenderam a caçar, pescar e domar animais; construir moradias; conhecer remédios, metais e pedras preciosas. Mas, o mais terrível ato de Prometeu foi dar à humanidade o fogo sagrado dos deuses, ameaçando-lhes o poder. Dessa forma, a obra inicia-se com a subida de um pequeno cortejo a uma montanha muito alta, o acorrentamento do titã e os diálogos travados: a arrogância de Cratos e Bias, executores dos desígnios de Zeus, a desolação de Hefesto e a resignação, sem auto-comiseração de Prometeu. Ao se ver sozinho, surgem-lhe as recordações de seus feitos, até ser interrompido pela presença de suas primas, as Oceânides. A elas, Prometeu diz ser portador de um segredo, que o faz desafiar o senhor do Olimpo, dada a sua capacidade de conhecer o futuro. Intrigadas, as Oceânides perguntam sobre os motivos do castigo de Zeus. E Prometeu acorrentado vai revelando as histórias míticas do começo do mundo, ampliando os conhecimentos do leitor de uma forma integrada, em linguagem épica. A chegada de outros visitantes - Oceano, Io e Hermes - dá ensejo a diálogos e transmissão de conhecimentos interessantes sobre a mitologia grega e as relações dos deuses entre si e com os homens. É dentro desse contexto de pouca ação e muito diálogo que se manifesta o belo trabalho de Olivieri, preservando a dramaticidade e sustentando o interesse da leitura do texto. A introdução feita por José Arrabal é bastante elucidativa e mostra que a obra faz parte de uma trilogia com Prometeu Portador do Fogo e Prometeu Libertado. Embora não sendo a mais vigorosa tragédia de Ésquilo, ainda assim é a mais encenada nos teatros. As ilustrações de Fernando Vilela são xilogravuras inspiradas na arte da Grécia Arcaica e Clássica. Excelente opção! (S.M.F.B.)